segunda-feira, 4 de abril de 2016

PELA CARAVELA QUE JÁ FOI MINHA…




PELA CARAVELA QUE JÁ FOI MINHA…


Aproveitando a chuva miudinha para lubrificar a alma
De um rio sequioso e esticar o coração à lareira…
Como nos velhos tempos, em que se jantava à luz da vela
E se saboreava o conhaque no lustre dos nossos olhares.

Aproveitando o frenesim de um tempo indefinido
Para saborear o dia sem pressas na espera
Que me há-de arrecadar toda a alma
E me levará o coração pela caravela
Que já foi minha e hoje são saudades seculares.

Aproveitando a vida, como se ela estivesse de partida
E me presenteasse com a bênção do mundo
Em que vivi, do que sonho e do que vivo, na taça milenar
Que tem a cor de olhares estampados em ligeiros vitrais
Que um dia eu pintei, sim naquela altura pintava…
Pintava a vida em telas reais, hoje não!
Hoje, apenas olho as telas de outrora e beijo as suas cores…
Como suaves rios que me amanhecem e deixam o meu coração
Perpetuar até que a morte nos separe, e vivo.

Aproveitando a chuva miudinha para refrescar o olhar…
Que nem imaginava viver tanto, e vivi, e vivo!
Tenho à lareira a tela que nasceu em mim e no hiato
Da chuva, há sempre uma vida que me faz lá morar
E hoje estou lá… pela caravela que já foi minha e grato
De poder sorver as lembranças em milenares rituais
Da vida que vivi e que vivo, que nem imaginava!

© RÓ MAR