COROA DE SONETOS DE RÓ MAR
A MEIO DUMA TARDE...
ATÉ AO LUAR!
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A meio duma tarde... o calor transborda
E nada melhor do que refrescar memória
Num cubo de gelo de poesia e dar corda
Ao relógio... Tempo de outra oratória!
Abrir todas as janelas para a tarde içar
Em silabas frutadas, ventilar o Estio
Em almas... Renovável singeleza a par
De taças inaugurando novo brio!
Poética com métrica que serve o verão
Ao mundo que dela ouse desfrutar
O solstício com mais imaginação!
Venha gente de todas as eras rematar
Este final de tarde, em que pouso a mão
Numa tal natureza que promete amar!
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Numa tal natureza que promete amar
Encontro o mote pra continuar a safra
Num frescor! A cereja na cesta a rimar
Refrescar com escaldar da parede de Mafra!
Tarde a amanhecer nos sabores do verso
Dum uno tempo, à janela a labareda
Que rege vidas num delicioso berço!
A merendar tal proeza quedo-me leda!
Ah, alma dotada que me prende ao poema!
Numa tarde de verão peço desejo
Fresquinho, digno duma tela de cinema!
E a boca adoça num vai e vem o beijo,
Do campo à cidade uno teorema
A completar a roda-vida em cortejo!
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A completar a roda-vida em cortejo
Tomo um suco de época, frutos diversos
E umas pedrinhas de gelo do Tejo,
O tórrido da tarde a destilar versos!
Ah, mar de nobre alma e sabor salgado
Nas tuas ondas vou espelhar o meu olhar!
Conto trazer a boa-nova do amado,
Pelas pedrinhas do areal vou procurar!
Conchas e algas marinhas levo ao coração
Num colar feito de amor e mui louvor
Noutros tempos por nossa prendada paixão!
A taça está quase vazia e o calor!?
Maré alta e gelo em vias de decomposição,
Nem as pedras salgadas salvam de dissabor!
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Nem as pedras salgadas salvam de dissabor!
Quem disse tal barbárie pouco descansou,
Adormeceu por momentâneo vapor
Que transmutava as águas qu' o refrescou!
Eis-lo aqui e d' olho bem regalado!
Pudera tomou mais cafezito à tarde,
Xícara açucarada pelo amado
E o vento fresco sopra na pele qu' arde!
Ah, tamanho escaldão! Pró que me deu
Passar p'las brasas, aos quarenta graus,
Folhas de papel almaço que m' escreveu!
Em tempo que a candeia era una luz
E as folhas meio tostão com cunho seu
Silabavam a tinta permanente...! Ai-Jesus!
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Silabavam a tinta permanente...! Ai-Jesus!
Ai, vinham de ceroulas banhar seus pés
Nas águas do Tejo à média luz
E lá s' empertigavam letras Ás a Zés!
Ah, tem certa piada, contudo pra rimar
Com o tempo actual têm que usar máscara,
Qualquer coisa por direito a veranear
Nas esplanadas, pois, vai mais uma xícara!?
Numa tal balburdia convém bem zelar
Os nossos! Escritos com todo o esmero
Meus versos circulam livres pelo ar!
Esta tarde de calor comporta exagero
E tal como os passarinhos vamos voar
Ao planeta verde que se diz sincero!
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Ao planeta verde que se diz sincero
Gostava de dar uma palavrinha nova!
Pra acrescentar vocabulário o paquero
Numa palete verde esmeralda em trova!
É outra cantiga que ouso no soneto
[Que muito m' apraz dar sempre continuidade],
Independente da coloração do momento
Tem o tom popular duma comunidade!
Mas, é de verde sempre qu' a menina-do-olho
Mira toda a beleza duma natureza
Diferente! Ah, Menina, resguarda teu olho!
O vendaval traz-te poeira com certeza,
Protege teu sonho, não o deixes num molho
Perdido p'lo campo de certa incerteza!
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Perdido p'lo campo de certa incerteza
Encontrou um desfecho prá tarde de verão
Numa outra paisagem também portuguesa
E o final do dia ferve até ao serão!
Está na hora d' intervalar o jantar
Com o Rosé a sair da geladeira
E dar volta no contexto pra cozinhar
A deliciosa sobremesa caseira!
Quiçá, serícaia pra adoçar o amado!
E eu que adoro tal iguaria faço
Da poesia doce tão cobiçado!
A noite entra de mansinho p'lo espaço
Das metáforas e eu que havia imaginado
Vista pró mar e céu luado renasço!
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Vista pró mar e céu luado renasço
O verso valsando verão escaldante
Nas entrelinhas deste poema enlaço
Com carinho e vontade de ter o amante!
Mui procurei nas pedrinhas do areal
E nada achei... o vento levou tudo,
Ou, quase tudo! Foi o principal
E o papel secundário reservado!
Minh' alma ao destino encontrou a razão
Num outro fado e a minha sina rema
Nos braços melódicos qu' encantam o coração!
Idolatrando o silêncio cresce o poema,
Que vou pintando e compondo de verão
Fresquinho, digno duma tela de cinema!
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Fresquinho, digno duma tela de cinema
É o luar icónico! O slide de verão
Ao pôr do sol faz a lua crescer o tema
Em versos de palmo e meio ao serão!
Extasiada com tão belo cenário
A memória retém o meu coração
Além mar num suculento imaginário,
Que adormece as sílabas e sonharão!
Ah, castelo plantado no céu anilado
P'la mão do artista que sabe decore
A casa do amor tem cavalo premiado!
O puro lusitano, porte de condor,
Crina entrançada em fita verde prado
E vento azul turquesa de nobre flor!
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E vento azul turquesa de nobre flor
É talismã desejado, frescor perfumado
Qu' invade o espaço e confronta a dor
D' alma pelo coração despedaçado!
Ah, estrela guia ilumina o caminho
Prá Musa de séculos chegar a reinar
Este singelo trono de pergaminho
E desfrutar o verão em coroa ao luar!
Duns versos soletrados a meio da tarde
Nasce uma noite em Julho de flor d' açucena
E a amada passeará a trote o 'Abade'...!
O esbelto cavalo branco entra em cena,
O filme vai começar e é de qualidade!
Oh, esqueci de fazer pipocas, temos pena!
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Oh, esqueci de fazer pipocas, temos pena!
Eu nem aprecio muito e quem gostar
Tem cozinha à disposição prá cantilena!
Mãos à obra que tenho que rebobinar...
Metros de película e mor poesia
Prá Musa revelar o segredo do luar!
Vestia saia plissada de versos, cortesia
Da blusa ousada d´ organdi a rimar...!
O jardim plantado p'las estrelas do dia,
Noite calma scriptando íris de desejo
E espelhando o écran que por aqui havia!
A Musa formosa atravessando o Tejo,
Ponte atravessada e o castelo luzia!
Ah, lua Menina adormeço teu beijo!
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Ah, lua Menina adormeço teu beijo
Ao colo da fada madrinha a sonhar,
Grávida d' esperança do que almejo
E o 'Abade' a meu lado a repousar!
Pausa bem merecida após tanto tempo
A trotear! Sonhamos o amanhecer,
Outro dia pra viver, sem contratempo
E com vontade de cultivar pra crescer!
Minha mão repousa o papiro ousado,
As palavras meditam no raio de luz
E o verão espreguiça encalorado!
No castelo plantado no céu que compus
A noite estrelada alumia o desejado
A sonhar com o mundo em berço de luz!
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A sonhar com o universo em berço de luz
Só pode acordar de bem com a vida e ser,
Fazer o mundo girar pelo que produz
[Prazer global] e a toda a hora agradecer...
Por mais um dia e por tudo o que a vida dá!
Cedinho começa o dia e p'la fresquinha,
É o que se quer pra ver no que é que isto dá!
O Sol já anda a espreitar a escrivaninha...
Até ao meio-dia está do lado de lá!
Tranquila manhã, tomo o café na cozinha,
Sem pensar no que por lá vai, fico por cá!
Há outros afazeres e minha madrinha
Só vem pró chá, p'las cinco da tarde está cá!
Ainda faço o bolo de canela e canjinha!
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Ainda faço o bolo de canela e canjinha
Pró jantar, antes de minha fada chegar!
E até ao luar o mistério mantinha
O leque pomposo prá casa ventilar!
Oh, 'Abade' que grande soneca, vamos lá
Mandrião, fiz-te um suco de cenoura!
Até arregala a crina, que feliz está!
E agora vamos lá pentear que é loura!
Mas, onde guardas-te o segredo Menina!?
No 'Abade' [alter], no Mar!? A fina corda
Para treinar a arte d' enlaçar real CRINA*
É fita verde prado que das silabas borda
Luar e o poema começa p´la surdina
A meio duma tarde... o calor transborda!
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COROA AO LUAR