FLORBELA ESPANCA


Flor Bela de Alma da Conceição Espanca




Florbela Espanca - Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 - Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930

Biografia de Florbela Espanca


Florbela Espanca (1894-1930) foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal. Foi uma das primeiras feministas de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz.

Flor Bela de Alma da Conceição Espanca (1894-1930) nasceu na vila de Viçosa, Alentejo Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894. Filha de Antónia da Conceição Lobo, que faleceu em 1908. Florbela é então educada pela madrasta Mariana e pelo pai, João Maria, que só a reconheceu como filha depois de sua morte. Estudou no Liceu, em Évora, concluindo o curso de Letras. Seu primeiro poema é escrito em 1903 “A Vida e a Morte”. Atuou como jornalista na publicação Modas & Bordados e na Voz Pública, um jornal de Évora.

Em 1913, casa-se com Alberto Moutinho, seu colega de escola. Nessa época conheceu outros poetas e participou de um grupo de mulheres escritoras. Em 1917, Florbela foi a primeira mulher a ingressar no curso de Direito da Universidade de Lisboa.

Em 1919, lançou Livro de Mágoas. Parte de sua inspiração veio de sua vida tumultuada, inquieta e sofrida pela rejeição do pai. Nessa época começa a apresentar um desequilíbrio emocional. Sofre um aborto espontâneo, que a deixa doente por um longo período. Em 1921, divorcia-se de Alberto e casa-se com o oficial de artilharia António Guimarães. Em 1923 publica Livro de Sóror Saudade. Nesse mesmo ano, sofre novo aborto e separa-se do marido. Em 1925, casa-se com o médico Mário Laje, em Matosinhos. Em 1927, sua vida é marcada pela morte do irmão, em um acidente de avião, fato que a levou a tentar o suicídio. A morte precoce do irmão lhe inspirou a escrever As Máscaras do Destino.

Outras obras póstumas foram: Charneca em Flor (1931), Juvenília (1931), Reliquiae (1934), O Dominó Preto (1983), Cartas de Florbela Espanca (1949).

A poesia de Florbela Espanca é caracterizada por um forte teor confessional. A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir em seus poemas os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental. Não fez parte de nenhum movimento literário, embora seu estilo lembrasse muito os poetas românticos.

Florbela Espanca suicidou-se com o uso de barbitúricos, no dia de seu aniversário, às vésperas da publicação de sua obra prima Charneca em Flor, que só foi publicada em janeiro de 1931.

Florbela Espanca morreu em Matozinhos, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1930


Perseguidora do ideal do amor acima de todos os outros aspetos da vida, transportou como ninguém todos os sentimentos que viveu para a poesia, com uma intensidade autobiográfica que expõe genialmente os mais obscuros recantos do interior do seu ser, glorificando em tons de angústia e ansiedade a sede infinita de um amor que está para lá do que é humano. Além da poesia, o conjunto dos seus escritos oferece uma perspectiva completa da exaltação e angústia de vários amores idealizados e sofridos, sempre em busca do verdadeiro Amor. 

In, Citações e Pensamentos de Florbela Espanca



Amar Intensamente


De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem. 

Florbela Espanca, in  Correspondência (1920)



Ser Poeta


Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior 
Do que os homens! Morder como quem beija! 
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! 

É ter de mil desejos o esplendor 
E não saber sequer que se deseja! 
É ter cá dentro um astro que flameja, 
É ter garras e asas de condor! 

É ter fome, é ter sede de Infinito! 
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... 
É condensar o mundo num só grito! 

E é amar-te, assim, perdidamente... 
É seres alma e sangue e vida em mim 
E dizê-lo cantando a toda gente! 

Florbela Espanca, in  Charneca em Flor




Florbela d' Alma da Conceição Espanca tem hoje seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram O Livro das Mágoas (1919) e Livro de Sóror Saudade (1923). Às vésperas da publicação de seu livro Charneca em Flor, em dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra. Dizem os críticos que a polémica e o encantamento de seus versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo masculino.

Texto do livro Sonetos, Bertrand Brasil - Rio de Janeiro, 2002, pág.




[1]
«Para mim? Para ti? Para ninguém. Quero atirar para aqui, negligentemente, sem pretensões de estilo, sem análises filosóficas, o que os ouvidos dos outros não recolhem: reflexões, impressões, ideias, maneiras de ver, de sentir – todo o meu espírito paradoxal, talvez frívolo, talvez profundo.
Foram-se, há muito, os vinte anos, a época das análises, das complicadas dissecações interiores. Compreendi por fim que nada compreendi, que mesmo nada poderia ter compreendido de mim. Restam-me os outros... talvez por eles possa chegar às infinitas possibilidades do meu ser misterioso, intangível, secreto.
Nas horas que se desagregam, que desfio entre os meus dedos parados, sou a que sabe sempre que horas são, que dia é, o que faz hoje, amanhã, depois. Não sinto deslizar o tempo através de mim, sou eu que deslizo através dele e sinto-me passar com a consciência nítida dos minutos que passam e dos que se vão seguir. Como compreender a amargura desta amargura? Onde paras tu, ó Imprevisto, que vestes de cor-de-rosa tantas vidas? Deus malicioso e frívolo que tão lindos mantos teces sobre os ombros das mulheres que vivem? Para mim és um fantoche, ora amável ora rabugento, de que eu conheço todos os fios, de quem eu sei de cor todas as contorções. «Attendre sans espérer» poderia ser a minha divisa, a divisa do meu tédio que ainda se dá ao prazer de fazer frases.
Não tenho nenhum intuito especial ao escrever estas linhas, não viso nenhum objetivo, não tenho em vista nenhum fim. Quando morrer, é possível que alguém, ao ler estes descosidos monólogos, leia o que sente sem o saber dizer, que essa coisa tão rara neste mundo – uma alma – se debruce com um pouco de piedade, um pouco de compreensão, em silêncio, sobre o que eu fui ou o que julguei ser. E realize o que eu não pude: conhecer-me.»

Página de abertura do Diário, datada de 11.01.1930, pp. 233-234.


[2]
«Viver não é parar: é continuamente renascer. As cinzas não aquecem; as águas estagnadas cheiram mal. Bela! Bela! não vale recordar o passado! O que tu foste, só tu o sabes: uma corajosa rapariga, sempre sincera para consigo mesma.
E consola-te, que esse pouco já é alguma coisa. Lembra-te que detestas os truques e os prestidigitadores. Não há na tua vida um só ato covarde, pois não? Então que mais queres, num mundo em que toda a gente o é... mais ou menos? Honesta sem preconceitos, amorosa sem luxúria, casta sem formalidades, reta sem princípios e sempre viva, exaltantemente viva, miraculosamente viva, a palpitar de seiva quente como as flores selvagens da tua bárbara charneca!»

Página do Diário, datada de 12.01.1930, p. 234.


[3]
«Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face… E esta amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa... mas o quê? Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurasténicos. Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes. Por debaixo da cor está o desenho firme, e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu de viver… para viver?»

Página do Diário, datada de 20.04.1930, p. 241.

Cartas e diário /Florbela Espanca, org., introd. e notas de Rui Guedes, Venda Nova, Bertrand, 1995 – Col. Autores de língua portuguesa, pp. 233, 234, 241.



Amiga


Deixa-me ser a tua amiga, Amor, 
A tua amiga só, já que não queres 
Que pelo teu amor seja a melhor, 
A mais triste de todas as mulheres. 

Que só, de ti, me venha mágoa e dor 
O que me importa a mim?! O que quiseres 
É sempre um sonho bom! Seja o que for, 
Bendito sejas tu por mo dizeres! 

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho ... 
Como se os dois nascêssemos irmãos, 
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho ... 

Beija-mas bem! ... Que fantasia louca 
Guardar assim, fechados, nestas mãos 
Os beijos que sonhei prà minha boca! ... 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas






A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.

Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.

Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.

Erótica e emocionalmente insatisfeita, sofre porque a sociedade não lhe compreende o conflito íntimo e a escorraça por querer a realização de apetências que catalogam de imorais, sem lhes compreender o alcance e a altitude. Mais, porém, que a hipócrita condenação social, faz sofrer à poetisa a ausência dum "outro", ou melhor, do "Outro", para satisfazer-lhe a ânsia dum amor mais forte que a vontade e as convenções burguesas: "O amor dum homem? - Terra tão pisada, / Gota de chuva ao vento boloiçada... / Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus!... ". Uma tão obsessiva e poderosa capacidade de amar, sendo incorrespondida, derrama-se na Natureza, originando poemas de tons panteísmos logo transformados em melancólica ternura pela terra-mãe, por Évora, pelos lugares da adolescência e por ela própria. Exaustos de suplicar um amor integral, seus sentidos pedem o repouso no solo de onde ela recebeu toda a demoníaca força que lhe vai nas entranhas. A Morte, agora, põe-se a substituir seu anseio de Vida: "Deixai entrar a Morte, a iluminada, / A que vem para mim, pra me levar, /Abri todas as portas par em par / Como asas a bater em revoada." Está-se na fase derradeira da poesia de Florbela, representada pelos sonetos de Charneca em Flor e Reliquae: embora menos impressionante e comovente como estado confessional, pois o relativo apaziguamento da luta interior vem acompanhado de renúncia e prostração, corresponde ao ápice artístico de sua carreira de poetisa. Seus sonetos atingem agora um refinamento raro e uma imediata força comunicativa, próprios duma sensibilidade que subtilizou o amor a pouco e pouco até assumir uma olímpica resignação de quem traz "no olhar visões extraordinárias", e só tem "os astros, como os deserdados... ", passando por efêmeros momentos de realização amorosa, numa plenitude que a leva a confessar ao Outro: "Dentro de ti, em ti igual a Deus!... ". Em matéria poética expressa em vernáculo, outra voz feminina igual não se ergueu até hoje. 

Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa - Editora Cultrix, São Paulo


A poesia de Florbela Espanca é mais significativa que seus contos, e produto duma sensibilidade exacerbada por fortes impulsos eróticos, corresponde a um verdadeiro diário íntimo onde a autora extravasa as lutas que travam dentro de si tendências e sentimentos opostos. Trata-se duma poesia-confissão, através da qual ganha relevo eloquente, cálido e sincero, toda a angustiante experiência sentimental duma mulher superior por seus dotes naturais, fadada a uma espécie de dom-juanismo feminino. A poetisa, como a desnudar-se por dentro, sem pejo ou preconceito de qualquer ordem, põe-se a confessar abertamente suas íntimas comoções de mulher apaixonada. O modo como procede, a temperatura da confidência amorosa, os reptos e os fulgores duma paixão incontrolável e escaldante, só encontra semelhança nas Cartas de Amor de Sóror Mariana Alcoforado. Aliás, a semelhança entre elas é muito Maior do que parece, quanto mais não fosse, porque ambas eram alentejanas... A trajetória poética de Florbela inicia-se sob a égide de António Nobre, seja nos versos que vão compor a juvenilia, seja no Livro de Mágoas: esteticismo, narcisismo e culto literário da Dor: "Poeta da Saudade, ó meu poeta q'rido", "ó Anto! Eu adoro os teus estranhos versos", "os males d'Anto toda a gente os sabe! ". Fase tateante ainda, mas onde já se vislumbra o encontro dum caminho autentico, duma dicção poética pessoal e forte. Com o Livro de Sóror Saudade, Florbela se encontra definitiva mente enquanto poetisa: o soneto, descoberto como a forma ideal para se exprimir, passa a ser largamente cultivado, embora sob a influência sensível dos sonetos anterianos. Conquistava, assim, o veículo que melhor lhe permitia confessar o drama íntimo, numa forma cada vez mais cuidada e límpida. Seu drama amoroso amadurece e desenvolve-se-lhe a expressão correspondente.

Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa - Editora Cultrix, São Paulo




A obra de Florbela é a expressão poética de um caso humano. Decerto para infelicidade da sua vida terrena, mas glória de seu nome e glória da poesia portuguesa, Florbela viveu a fundo esses estados quer de depressão, quer de exaltação, quer de concentração em si mesma, quer de dispersão em tudo, que na sua poesia atinge tão vibrante expressão. Mulheres com talento vocabular e métrico para talharem um soneto como quem talha um vestido; ou bordarem imagens como quem borda missanga; ou (o que é ainda menos agradável) se dilatarem em ondas de verbalismo como quem se espreguiça por nada ter o que fazer, que dizer - naturalmente as houve, e há, antes e depois da vida de Florbela. (...) Também, decerto, apareceram na nossa poesia autênticas poetisas, antes e depois de Florbela. Nenhuma, porém, até hoje, viveu tão a sério um caso tão excecional e, ao mesmo tempo, tão significativamente humano. Jorge de Sena dirá: "tão expressivamente feminino." 

José Régio (in Sonetos de Florbela Espanca, Livraria Bertrand, Portugal, 19ª. ed. completa, 1981) 



A Flor do Sonho


A Flor do Sonho, alvíssima, divina, 
Miraculosamente abriu em mim, 
Como se uma magnólia de cetim 
Fosse florir num muro todo em ruína. 

Pende em meu seio a haste branda e fina 
E não posso entender como é que, enfim, 
Essa tão rara flor abriu assim! ... 
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ... 

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos, 
Que tem que sejam tristes os meus olhos 
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ... 

Desde que em mim nasceste em noite calma, 
Voou ao longe a asa da minha’alma 
E nunca, nunca mais eu me entendi ... 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas


Eu


Eu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada ... a dolorida ... 

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! ... 

Sou aquela que passa e ninguém vê ... 
Sou a que chamam triste sem o ser ... 
Sou a que chora sem saber porquê ... 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou! 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas


Pequenina


És pequenina e ris ... A boca breve 
É um pequeno idílio cor-de-rosa ... 
Haste de lírio frágil e mimosa! 
Cofre de beijos feito sonho e neve! 

Doce quimera que a nossa alma deve 
Ao Céu que assim te faz tão graciosa! 
Que nesta vida amarga e tormentosa 
Te fez nascer como um perfume leve! 

O ver o teu olhar faz bem à gente ... 
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores 
Quando o teu nome diz, suavemente ... 

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou, 
Que ela afaste de ti aquelas dores 
Que fizeram de mim isto que sou! 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas


Lágrimas Ocultas 


Se me ponho a cismar em outras eras 
Em que ri e cantei, em que era querida, 
Parece-me que foi noutras esferas, 
Parece-me que foi numa outra vida ... 

E a minha triste boca dolorida, 
Que dantes tinha o rir das primaveras, 
Esbate as linhas graves e severas 
E cai num abandono de esquecida! 

E fico, pensativa, olhando o vago ... 
Toma a brandura plácida dum lago 
O meu rosto de monja de marfim ... 

E as lágrimas que choro, branca e calma, 
Ninguém as vê brotar dentro da alma! 
Ninguém as vê cair dentro de mim! 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas


Dizeres Íntimos


É tão triste morrer na minha idade! 
E vou ver os meus olhos, penitentes 
Vestidinhos de roxo, como crentes 
Do soturno convento da Saudade! 

E logo vou olhar (com que ansiedade! ...) 
As minhas mãos esguias, languescentes, 
De brancos dedos, uns bebês doentes 
Que hão-de morrer em plena mocidade! 

E ser-se novo é ter-se o Paraíso, 
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida, 
Aonde tudo é luz e graça e riso! 

E os meus vinte e três anos ... (Sou tão nova!) 
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ...” 
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!” 

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas


Os Versos que Te Fiz


Deixa dizer-te os lindos versos raros 
Que a minha boca tem pra te dizer! 
São talhados em mármore de Paros 
Cinzelados por mim pra te oferecer. 

Têm dolências de veludos caros, 
São como sedas brancas a arder... 
Deixa dizer-te os lindos versos raros 
Que foram feitos pra te endoidecer! 

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda... 
Que a boca da mulher é sempre linda 
Se dentro guarda um verso que não diz! 

Amo-te tanto! E nunca te beijei... 
E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei 
Guardo os versos mais lindos que te fiz! 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Princesa Desalento


Minh'alma é a Princesa Desalento, 
Como um Poeta lhe chamou, um dia. 
É revoltada, trágica, sombria, 
Como galopes infernais de vento!

É frágil como o sonho dum momento, 
Soturna como preces de agonia, 
Vive do riso duma boca fria! 
Minh'alma é a Princesa Desalento... 

Altas horas da noite ela vagueia... 
E ao luar suavíssimo, que anseia, 
Põe-se a falar de tanta coisa morta! 

O luar ouve a minh'alma, ajoelhado, 
E vai traçar, fantástico e gelado, 
A sombra duma cruz à tua porta... 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Fanatismo


Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida. 
Meus olhos andam cegos de te ver. 
Não és sequer razão do meu viver 
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida... 
Passo no mundo, meu Amor, a ler 
No mist'rioso livro do teu ser 
A mesma história tantas vezes lida!... 

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa... 
Quando me dizem isto, toda a graça 
Duma boca divina fala em mim! 

E, olhos postos em ti, digo de rastros: 
"Ah! podem voar mundos, morrer astros, 
Que tu és como Deus: princípio e fim!..." 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


A Vida


É vão o amor, o ódio, ou o desdém; 
Inútil o desejo e o sentimento... 
Lançar um grande amor aos pés d'alguém 
O mesmo é que lançar flores ao vento! 

Todos somos no mundo "Pedro Sem", 
Uma alegria é feita dum tormento, 
Um riso é sempre o eco dum lamento, 
Sabe-se lá um beijo donde vem! 

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se... 
Uma saudade morta em nós renasce 
Que no mesmo momento é já perdida... 

Amar-te a vida inteira eu não podia... 
A gente esquece sempre o bem dum dia. 
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!... 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Caravelas


Cheguei a meio da vida já cansada 
De tanto caminhar! Já me perdi! 
Dum estranho país que nunca vi 
Sou neste mundo imenso a exilada. 

Tanto tenho aprendido e não sei nada. 
E as torres de marfim que construí 
Em trágica loucura as destruí 
Por minhas próprias mãos de malfadada! 

Se eu sempre fui assim este Mar-Morto, 
Mar sem marés, sem vagas e sem porto 
Onde velas de sonhos se rasgaram. 

Caravelas doiradas a bailar... 
Ai, quem me dera as que eu deitei ao Mar! 
As que eu lancei à vida, e não voltaram!... 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Maria das Quimeras


Maria das Quimeras me chamou 
Alguém.. Pelos castelos que eu ergui 
P'las flores d'oiro e azul que a sol teci 
Numa tela de sonho que estalou. 

Maria das Quimeras me ficou; 
Com elas na minh'alma adormeci. 
Mas, quando despertei, nem uma vi 
Que da minh'alma, Alguém, tudo levou! 

Maria das Quimeras, que fim deste 
Às flores d'oiro e azul que a sol bordaste, 
Aos sonhos tresloucados que fizeste? 

Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?... 
Aonde estão os beijos que sonhaste, 
Maria das Quimeras, sem quimeras?... 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


O Nosso Mundo


Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos 
Como um divino vinho de Falerno! 
Poisando em ti o meu amor eterno 
Como poisam as folhas sobre os lagos... 

Os meus sonhos agora são mais vagos... 
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno... 
E a Vida já não é o rubro inferno 
Todo fantasmas tristes e pressagos! 

A vida, meu Amor, quer vivê-la! 
Na mesma taça erguida em tuas mãos, 
Bocas unidas hemos de bebê-la! 

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?... 
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?... 
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!... 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Saudades


Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?... 
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte 
Deslumbrar-me de luz o coração! 

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão! 
Que tudo isso, Amor, nos não importe. 
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão. 

Quantas vezes, Amor, já te esqueci, 
Para mais doidamente me lembrar 
Mais decididamente me lembrar de ti! 

E quem dera que fosse sempre assim: 
Quanto menos quisesse recordar 
Mais saudade andasse presa a mim! 

Florbela Espanca, in Livro de Sóror Saudade


Charneca em Flor


Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca, in Charneca em Flor


Amar!


Eu quero amar, amar perdidamente! 
Amar só por amar: Aqui... além... 
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... 
Amar! Amar! E não amar ninguém! 

Recordar? Esquecer? Indiferente!... 
Prender ou desprender? É mal? É bem? 
Quem disser que se pode amar alguém 
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida: 
É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! 

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada 
Que seja a minha noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... pra me encontrar... 

Florbela Espanca, in Charneca em Flor



A Nossa Casa


A nossa casa, Amor, a nossa casa! 
Onde está ela, Amor, que não a vejo? 
Na minha doida fantasia em brasa 
Constrói-a, num instante, o meu desejo! 

Onde está ela, Amor, a nossa casa, 
O bem que neste mundo mais invejo? 
O brando ninho aonde o nosso beijo 
Será mais puro e doce que uma asa? 

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos, 
Andamos de mãos dadas, nos caminhos 
Duma terra de rosas, num jardim, 

Num país de ilusão que nunca vi... 
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti 
E tu, ó meu Amor, dentro de mim... 

Florbela Espanca, in Charneca em Flor


Se Tu Viesses Ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, 
A essa hora dos mágicos cansaços, 
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços... 

Quando me lembra: esse sabor que tinha 
A tua boca... o eco dos teus passos... 
O teu riso de fonte... os teus abraços... 
Os teus beijos... a tua mão na minha... 

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca... 
Quando os olhos se me cerram de desejo... 
E os meus braços se estendem para ti... 

Florbela Espanca, in Charneca em Flor


A Voz da Tília


Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera, 
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça, 
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, 
Este ar escultural de bayadera... 

E de manhã o sol é uma cratera, 
Uma serpente de oiro que me enlaça... 
Trago nas mãos as mãos da Primavera... 
E é para mim que em noites de desgraça 

Toca o vento Mozart, triste e solene, 
E à minha alma vibrante, posta a nu, 
Diz a chuva sonetos de Verlaine..." 

E, ao ver-me triste, a tília murmurou: 
"Já fui um dia poeta como tu... 
Ainda hás de ser tília como eu sou..." 

Florbela Espanca, in Charneca em Flor


Diz-me, Amor, como Te Sou Querida


Diz-me, amor, como te sou querida, 
Conta-me a glória do teu sonho eleito, 
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito, 
Arranca-me dos pântanos da vida. 

Embriagada numa estranha lida, 
Trago nas mãos o coração desfeito, 
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito 
Que me salve e levante redimida! 

Nesta negra cisterna em que me afundo, 
Sem quimeras, sem crenças, sem ternura, 
Agonia sem fé dum moribundo, 

Grito o teu nome numa sede estranha, 
Como se fosse, amor, toda a frescura 
Das cristalinas águas da montanha! 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


O Teu Olhar


Passam no teu olhar nobres cortejos, 
Frotas, pendões ao vento sobranceiros, 
Lindos versos de antigos romanceiros, 
Céus do Oriente, em brasa, como beijos, 

Mares onde não cabem teus desejos; 
Passam no teu olhar mundos inteiros, 
Todo um povo de heróis e marinheiros, 
Lanças nuas em rútilos lampejos; 

Passam lendas e sonhos e milagres! 
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, 
Em centelhas de crença e de certeza! 

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, 
Amor, julgo trazer dentro de mim 
Um pedaço da terra portuguesa! 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


Falo de Ti às Pedras das Estradas


Falo de ti às pedras das estradas, 
E ao sol que e louro como o teu olhar, 
Falo ao rio, que desdobra a faiscar, 
Vestidos de princesas e de fadas; 

Falo às gaivotas de asas desdobradas, 
Lembrando lenços brancos a acenar, 
E aos mastros que apunhalam o luar 
Na solidão das noites consteladas; 

Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória, 
Levanta ao céu a torre dos meus beijos! 

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória, 
São astros que me tombam do regaço! 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


Versos


Versos! Versos! Sei lá o que são versos... 
Pedaços de sorriso, branca espuma, 
Gargalhadas de luz, cantos dispersos, 
Ou pétalas que caem uma a uma... 

Versos!... Sei lá! Um verso é o teu olhar, 
Um verso é o teu sorriso e os de Dante 
Eram o teu amor a soluçar 
Aos pés da sua estremecida amante! 

Meus versos!... Sei eu lá também que são... 
Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração 
Partido em mil pedaços são talvez... 

Versos! Versos! Sei lá o que são versos... 
Meus soluços de dor que andam dispersos 
Por este grande amor em que não crês... 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


O Meu Soneto


Em atitudes e em ritmos fleumáticos, 
Erguendo as mãos em gestos recolhidos, 
Todos brocados fúlgidos, hieráticos, 
Em ti andam bailando os meus sentidos... 

E os meus olhos serenos, enigmáticos 
Meninos que na estrada andam perdidos, 
Dolorosos, tristíssimos, extáticos, 
São letras de poemas nunca lidos... 

As magnólias abertas dos meus dedos 
São mistérios, são filtros, são enredos 
Que pecados d´amor trazem de rastros... 

E a minha boca, a rútila manhã, 
Na Via Láctea, lírica, pagã, 
A rir desfolha as pétalas dos astros!.. 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


Junquilhos


Nessa tarde mimosa de saudade 
Em que eu te vi partir, ó meu amor, 
Levaste-me a minh'alma apaixonada 
Nas folhas perfumadas duma flor. 

E como a alma, dessa florzita, 
Que é minha, por ti palpita amante! 
Oh alma doce, pequenina e branca, 
Conserva o teu perfume estonteante! 

Quando fores velha, emurchecida e triste, 
Recorda ao meu amor, com teu perfume 
A paixão que deixou e qu'inda existe... 

Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde, 
Que venha aquecer-se ao brando lume 
Dos meus olhos que morrem de saudade! 

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas


Escreve-me ...


Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca




Singela Homenagem à Querida Poetisa Florbela Espanca


Florbela Espanca é considerada como a grande figura feminina da Literatura Portuguesa do século XX. Sendo que, perpetua no tempo pela sua vasta beleza de composição poética, em particular, no que concerne à poesia em sonetos. Em toda a obra expressou a sua grandeza de alma e coração, enaltecendo o amor e dando voz à poesia, transpondo para o mundo a conceção de amor eterno.
Amor esse que lhe é retribuído, em forma de homenagem, no Dia do seu 123º Aniversário de Nascimento e 87º, data em que faleceu.
Comemoremos com toda a vida que a querida poetisa desejaria, o dia de aniversário, 8 de Dezembro de 1894. Para além de ter sido uma grande riqueza na nossa poesia, admiro-a como pessoa nobre que o foi. Escrevo porque, a sinto e a compreendo... Talvez sejam estas as palavras que lhe faltam... Mas, o seu "Sono" é Divino, talvez ainda possa escutá-las.
O Amor nunca é de mais, quando se ama há que fazer sentir o quanto se ama. Como a Flor Bela há muitas mais outras, de Alma pura, genuínas, Flores de espinhos, de muitos desamores, que a vida negou o direito ao Amor. Tantas são as que nunca ouviram estas duas palavras AMO-TE. Custa assim tanto dizer AMO-TE!
Eu, digo e repito, quantas vezes for necessário para o Mundo acordar para a Vida, AMO-TE... AMO-TE... e porque te Amo digo AMO-TE...

Flor da Poesia... AMO-TE


Flor Bela, minha Amada...
Estás e estarás sempre 
Viva nos nossos corações,
Pois, quem Ama Poesia, 
Ama-te intensamente! Meu Amor,
Nestas minhas palavras 
Singelas, mas, sentidas,
Me despeço... num beijo de Sol e utopia.
Uma carta inacabada, 
Querida... AMO-TE, Meu Amor,
Até Sempre. Meu Amor,
Não te esqueças, Meu Amor,
Logo à noitinha, quando o Sol beijar
A Lua d' estares lá, "Praia de Desejos", Bela...
Dar-te-ei aquele Beijo desejado.
E assim, se aquecerão
As nossas bocas trémulas e gélidas, 
Pelo "Sono" - Eternidade...
Os nossos corações
Serão Vida, pelo Sóror de genuíno Amor.
Ai, meu Amor... será belo e cobiçado,
O Nosso Luar! Amor...
Não te esqueças, mais logo, pela tua noite, 
Qu' estarei novamente do teu lado.
Por agora, deixo-te.... 
Levo no pensamento o nosso Luar,
E, assim recordo-te. À Hora de Sempre
Lá estarei p' ra Te Amar, intensamente, 
Meu Amor... Flor da Poesia.

Um Beijinho do Coração Florbela...
AMO-TE... e porque te Amo digo AMO-TE...

© RÓ MAR

2017/12/08

_________ & ________


A poetisa ao longo destes anos tem sido homenageada frequentemente e de diversas formas, inclusive, nos meios audiovisuais, nomeadamente, a televisão e o cinema.

PERDIDAMENTE FLORBELA (2012) 

Realizador - Vicente Alves do Ó






A série de três episódios intitulada Perdidamente Florbela (Portugal, 2012) de Vicente Alves do Ó foi transmitida a partir de 26 de dez. 2012 na RTP1.
Trata-se de uma versão mais longa para televisão do filme Florbela (2012), do mesmo realizador. O filme teve antestreia no Cinema São Jorge, a 22 de fevereiro, e nas salas de cinema portuguesas a 8 de março.

Quer o filme quer a minissérie configuram o "drama biográfico" da poetisa calipolense Florbela Espanca (1894-1930) - a série abrange toda a vida de Florbela, o filme centra-se em quatro dias da sua vida, nos anos 20 - e são protagonizados por Dalila Carmo, Ivo Canelas e Albano Jerónimo.



Sinopse de Perdidamente Florbela

"O retrato íntimo de Florbela Espanca. 

A história de uma mulher apaixonada e que apaixonou."


Florbela Espanca é um dos vultos mais importantes da poesia portuguesa do século XX. A sua história pode ser contada com ou sem escândalo, ou fascinação pelo escândalo, mas será sempre a história de uma mulher apaixonada e que apaixonou. Reinventou o conceito de ser poeta, hoje em dia indissociável da música dos Trovante que todos sabemos de cor, “E dizê-lo a toda a gente”. Esta série é o retrato íntimo de Florbela: Uma vida cheia de sofrimento, mas uma poesia que se eternizou pelo seu encanto nunca longe da sensualidade.

 In site da RTP


FILME FLORBELA (2012) 

Realizador - Vicente Alves do Ó




Uma das mais belas homenagens, a uma das mais consagradas poetisas do séc: XX, do pouco reconhecido argumentista e realizador, Vicente Alves do Ó é protagonizado por Dalila Carmo, Ivo Canelas e Albano Jerónimo.
O filme, de 2012, foi visto por mais de vinte mil espectadores, nas salas de cinema.

Sinopse:

Num Portugal atordoado pelo fim dos Anos 20, Florbela (Dalila Carmo) separa-se de forma violenta de António. Apaixonada por Mário Lage (Albano Jerónimo), refugia-se num novo casamento, mas a vida de esposa na província não é conciliável com sua alma inquieta. Não consegue escrever nem amar. Ao receber uma carta do irmão Apeles (Ivo Canelas), Florbela corre para junto dele. Na cumplicidade do irmão aviador, Florbela procura um sopro em cada esquina da capital entre amantes, revoltas populares e festas de foxtrot. O marido tenta resgatá-la para a normalidade, mas como dar norte a quem tem sede de infinito? Entre a realidade e o sonho, os poemas surgem quando o tempo pára. Nesse imaginário febril de Florbela, neva dentro de casa, esvoaçam folhas na sala, panteras ganham vida e apenas os seus poemas a mantém sã. Florbela é o retrato íntimo de Florbela Espanca: não de toda a sua vida cheia de sofrimento, mas de um momento no tempo, em busca de inspiração, uma mulher que viveu de forma intensa e não conseguiu amar docemente. Florbela Espanca é um dos vultos mais importantes da poesia portuguesa do séc. XX. A sua história pode ser contada com ou sem escândalo, mas será sempre a de uma mulher apaixonada e que apaixonou. Esta foi a primeira adaptação para cinema da vida de Florbela Espanca.



Entrevista - Dalila do Carmo (Florbela)



Pesquisa / elaboração: © RÓ MAR